Transição capilar se populariza e leva mulheres a assumirem seus cabelos naturais
Por muitos anos, o cabelos liso foi um padrão capilar considerado bom. Atualmente, junto com outros padrões estabelecidos pela sociedade, o alisamento perdeu sua hegemonia. A transição capilar tem se disseminado entre mulheres que, por diversos motivos, optaram por abandonar o alisamento dos fios e assumir seu cabelo natural. O processo se dá pela não utilização de procedimentos químicos, para que o cabelo cresça em sua forma natural. Existem diferentes maneiras de abandonar o alisamento e, por ser uma escolha pessoal, varia de pessoa para pessoa. Requer paciência, dedicação e, principalmente, amor próprio.
Transitar
Há quem prefira deixar as madeixas crescerem e cortar a parte alisada gradualmente, até que seja totalmente eliminada. Nem todas têm paciência para tal feito e optam pelo corte – famoso big chop – que retira a parte alisada de uma só vez. Outras opções são tranças, como a boxeadora e a box braids, e a texturização, que é a modelagem do cabelo. Para quem escolhe cortar aos poucos e manter o cabelo escovado, por não saber lidar com as duas texturas, a cabeleireira especialista em cabelos naturais, Renata Sanchez, faz um alerta. “O ato de escovar e pranchar o cabelo traz o alisamento mecânico, que é a memória por repetição do fio. Se você decide fazer a transição capilar esse é um dos passos: parar de escovar e pranchar o cabelo”, explica.
Quebra de padrão
Voltar a usar o cabelo natural perpassa por questões pessoais, sociais e psicológicas, uma vez que, em alguns casos, as pessoas passaram por cima de suas origens na tentativa de se adequarem aos padrões impostos pela sociedade. “Eu nunca aceitei muito bem meu cabelo, devido ao volume e as ondas, e naquela época a aceitação maior era dos lisos. Então, eu me identifiquei logo com os lisos e passei a escovar”, conta a cabeleireira que também passou pela transição. Ela diz ainda que é uma decisão libertadora e complexa. “O processo de aceitação é um pouco mais doloroso para a mulher. A gente se olha no espelho e ainda não se aceita. Porque o liso foi imposto pela sociedade por muito tempo. Então, a mulher tem um pouco de dificuldade em aceitar isso inicialmente”, relata.
Bullying
O termo bullying é consideravelmente novo, mas era praticado muito antes de ter uma nomenclatura. Cabelos crespos e volumosos eram alvo de deboche. É comum ouvir histórias de mulheres que tiveram seus cabelos alisados muitos novas, por causa do preconceito, como é o caso da nail designer, Samara Maira, que está passando pela transição pela segunda vez. “Eu nem me lembro da primeira vez que o alisamento foi feito. Eu era bem nova, tinha menos de 15 anos. Era muita ‘zuação’ na escola e eu ficava péssima. Fiz sem autorização da minha mãe, por conta própria”, relembra. Renata, que é contra o alisamento em cabelos naturais, conta que já realizou o big chop em duas crianças de nove anos. “As mães querem facilidade, querem praticidade. Então, preferem alisar os cabelos das crianças”, afirma.
Individualidade
Segundo a cabeleireira, a aceitação parte do entendimento de que o cabelo deve ser livre, que tem características próprias e não tem, necessariamente, que ser cacheado. “Cada pessoa tem um tipo de fio, um tipo de volume. Eu acho que, hoje em dia, a transição cresceu muito no quesito moda também. Muitos acham que é um estilo, e, na verdade, não. É uma identidade. É você assumir o seu cabelo real, natural mesmo”, reitera. É necessário também mudar a rotina diária de cuidados, conhecer o próprio cabelo para tratá-lo de acordo com suas necessidades. “É importante que a pessoa tenha interesse em pesquisar, em conhecer esse universo”, finaliza.
Matéria publicada no Jornal A Banqueta de Notícias, em julho de 2019
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